quarta-feira, dezembro 08, 2004

frites

O que ficámos a saber com a vinda de Durão Barroso a Portugal noticiada aqui pelo Público:

1. Que o senhor considera que a actual crise política portuguesa «é uma questão interna sobre a qual não me posso [não se pode] pronunciar;

2. Que «uma situação de crise política [a nossa, sobre a qual não se pode pronunciar] não é seguramente o melhor momento para discutir a Constituição europeia»;

3. Que ficou «surpreendido» com a decisão do Presidente da República - decisão essa que originou a questão interna sobre a qual não se podia pronunciar - e que segue com «especial preocupação» a evolução da dita crise.

Ou seja, ele não se pronuncia sobre a crise - porque não pode -, consubstanciando-se essa não-pronúncia num conselho paternalista sobre o referendo à Constituição europeia e em duas ou três manifestações de surpresa e preocupação direccionadas aos indígenas.

Tudo isto é muito interessante, pois a única coisa efectivamente não comentada foi a origem da crise - i.e., ele - e tudo o resto é ligeiramente aflorado, com laivos de messianismo mesclados com a - mais do que expectável - pose de grande estadista europeu.

O truque para a primeira situação é velho, e passa pelo habitual desdobramento público de personalidades que tanto prezamos: afirmando que não se podia pronunciar, Durão Barroso, Presidente da Comissão Europeia, dá a entender que tal não seria assunto que equidistante figura devesse comentar, já que não estávamos a inquirir Durão Barroso, ex-Primeiro Ministro de Portugal. É claro que, dando a coisa para o torto, lá teríamos o habitual "no entanto, na qualidade de ex-Primeiro Ministro, eu acho que...", mandando-se o outro às malvas; ou, numa outra formulação, mais adaptada para diversa situação, "como militante do PSD, não posso deixar de afirmar que ...". Infelizmente, estas mascaradas são um costume na vida pública portuguesa. Quando é que conseguiremos valorizar alguém que tenha as mesmas convicções como Presidente da Comissão Europeia, como ministro, como líder da oposição, como sócio da Naval 1.º de Maio, como encarregado de educação ou administrador de condomínio?

Claro está que diferentes posições implicam diferentes discursos; ou o silêncio, em último caso. Mas isso não deveria condicionar a essência do que se pensa, antes a forma como as ideias são colocadas. Faz-me lembrar aquele meu amigo, que é 'intelectualmente honesto' - isso quer dizer o quê? Que lhe posso emprestar edições descatalogadas do Herberto Helder e não lhe posso emprestar dinheiro?

A pose de Estado, enfim, não é nada que não se esperasse, já que estes fenómenos funcionam por osmose. Quantos de nós não ficámos deslumbrados depois daquela primeira viagem pelo 'Circuito das Capitais Imperiais' e, ao regressar a casa, não estranhámos a saloia tacanhez dos Fernandes, do 2.º esquerdo, com a qual tivemos de condescender?

Mas sobre isso não desejo pronunciar-me.

1 scone(s)

Às 9/12/04 12:27, Blogger Duarte disse...

Hallo, Herr Casquinha! Willkommen. Wie geht's dir? Ich vermisse Berlin... Tschüs! d

 

Enviar um comentário

<< voltar