quarta-feira, dezembro 29, 2004

cadernos do laçarote – XI

bairro dos coqueiros
28.Dezembro.2004
23h06 em Portugal





Tríptico ‘Dirty Harry’

Desconheço qual o calibre. Esta imagem é de um buraco provocado por um disparo que atingiu há uns meses o carro em que me desloco. Houve um assalto à luz do dia na rua onde se encontrava estacionado e um segurança que estava de serviço começou a correr e a disparar contra o assaltante em fuga. A bala conseguiu desviar-se das muitas pessoas que circulavam pela rua e furou o guarda-lamas do jipe, atravessando-o, qual indefectível do tuning.

Não pensem por isso que há pouco segurança na cidade. Aliás, se há algo que não falta é segurança – há seguranças em todas as montras, cafés, restaurantes, lojas, bancos, repartições, elevadores (são raros os que funcionam) e casa sim, casa não. Os porteiros dos prédios, por exemplo, não são velhotes simpáticos ou rezingões chamados senhor Álvaro ou senhor Raposo; antes seguranças iguais aos outros - jovens fardados com uniformes de caqui e botas militares.

Isso faz com que os meliantes tenham de pensar duas vezes antes de agir; e, mesmo que à segunda vez decidam pintar a manta, ainda há as Kalashnikovs ao ombro para os dissuadir. A Kalashnikov é um acessório essencial para estes homens, condenados a passar dias inteiros em cadeiras velhas à porta dos bens e serviços que defendem. Os polícias também as têm, mas optam por uma pose mais descontraída, usando-a permanentemente na mão como se fosse um rádio ou um telemóvel. Por falar nestes, acho que ainda não houve sítio nenhum onde tenha ligado o meu e não conseguisse rede; isto desde a cidade até à zona mais inóspita onde estive. Acreditem: não há muitos telemóveis em Portugal.