quarta-feira, dezembro 29, 2004

cadernos do laçarote – X

clube naval, ilha
28.Dezembro.2004
18h30 em Portugal


Olá. Esta vai ser rápida, para vossa e minha satisfação. O gin pouco ajudou e estou com uma ligeira febre e dores de garganta. Já fui consultar todo o arsenal farmacêutico que trouxe de Portugal, mas são tantas caixas que não consigo perceber o que é para o paludismo, para as alergias, para as picadas de insecto, para as diarreias, para a febre, para tudo o resto que ainda não tive. Vou tomar dois ao calhas e logo se vê se mudo mais tarde.

A intenção inicial do dia de hoje era descer até Cabo Ledo, passando pela Barra do Kwanza. Infelizmente, o tempo não ajudou. A chuva que caiu durante a manhã, apesar de em pouca quantidade, é suficiente para impedir a circulação em algumas vias, pelo que optámos por viajar até ao Bom Jesus, a meio-caminho do itinerário inicialmente planeado.

No caminho de ida fizemos uma paragem em Viana, se o meu coração não me engana (piada brilhante, Duarte!; muito inesperada).A portuguesa Marisqueira Viana estava já a servir o bacalhau à Gomes de Sá que tinha como prato de dia – eram onze horas da manhã -, mas ficámo-nos por uns cafés. Apanhando a estrada do Catete, seguimos tranquilamente e – esta tenho de contar – vimos um macaco a atravessar a estrada! Desculpem se perdi o estilo nesta frase, mas fiquei mesmo emocionado! Ufa! Adiante! E assim chegámos ao Bom Jesus.

O Bom Jesus é uma pequena povoação nas margens do rio Kwanza que, hoje em dia, resulta apenas dos resquícios de edifícios coloniais sem qualquer manutenção. A antiga exploração de cana-de-açúcar, hoje desactivada, deu lugar a uma fábrica de águas; se bem que esta não seja a principal razão pela qual o Bom Jesus é conhecido: no meio da selva, é aqui que se encontra uma fábrica da Coca-Cola. Não, não é piada, nem estou a brincar com esse filme que viram há muito tempo - há realmente uma fábrica da Coca-Cola. E é selva mesmo, com o rio a sugerir a existência de crocodilos e de outros predadores; para além da Coca-Cola, claro.


O rio Kwanza no Bom Jesus

O almoço foi mesmo por aí, servindo de preparação para a segunda parte da viagem, em direcção a Catete. Aqui, tirando o lado histórico, poucos motivos de interesse foram encontrados.

Já no regresso à cidade, passámos pelo mercado da Estalagem, tão igual a todos os outros – de tudo, para todos. Acontece que nem é necessário frequentá-los para comprar seja o que for. Em vinte minutos de trânsito, perto do bairro dos cubanos, em que avançámos cinco metros, vi os miúdos de rua passarem pelo carro com os seguintes artigos para venda: água, sumos, bolachas, jantes, capas para telemóveis, ventoinhas de chão, aparelhagens, perfumes Kenzo, Lacoste e Calvin Klein, lâminas de barbear, máquinas de café, camisas, gravatas, volantes, DVDs, faqueiros, estofos, candeeiros e fico-me por aqui, que já é tarde…

O final do dia está a ser passado aqui, na esplanada sobre o mar do Convés, restaurante do clube naval da ilha, onde provei umas quitetas fresquíssimas (casquinhas parecidas com amêijoas) que só não vos dou a provar porque alguém acabou com elas. Entretanto, o sol já se pôs e as constantes falhas no gerador dizem-nos que são horas de voltar a casa e de preparar o dia de amanhã.


Cidade e baía vistas do Convés

P.S.: Não tenho a certeza que o rio acima mencionado seja realmente o Kwanza ou apenas um afluente. Como ninguém parece saber por aqui, fica a descrição tal como estava.