sexta-feira, dezembro 24, 2004

cadernos do laçarote – I

voo tp 2253
23.Dezembro.2004
13h07 em Portugal


O voo saiu com atraso e estou agora a sobrevoar as montanhas do Atlas. Bem, talvez não sejam exactamente as montanhas do Atlas e estas estejam um bocado mais lá ao fundo; talvez não possa precisar isto por estar um manto branco que me impede de ver qualquer coisa lá fora para além da asa do avião – a única coisa que não queria ver. Não sei por que é que calho sempre nestes lugares; sei, é para ficar a olhar lá para fora constantemente e imaginar que a qualquer momento vai saltar uma parte da fuselagem ou as turbinas vão parar.

Assumamos então, por conveniência da narrativa, que estou a sobrevoar as montanhas do Atlas e… Agora aparece-me um deserto plano!... Pronto, não são as montanhas do Atlas, mas diabos me levem se não é igualmente bom: planície a perder de vista, de tons castanhos e apenas interrompida pelas sombras negras com que as nuvens as pintam. É, árido, isso mesmo.

Não sei porquê, mas apetece-me contar duas ou três mentiras, metidas numa historieta fantástica com tribos, antepassados nómadas e expedições iniciáticas, para dar nobreza a isto. Receio apenas que o Bruce Chatwin já tenha inventado todas as mentiras de viagem possíveis e imaginárias, pelo que deixarei para um momento em que estejam mais distraídos.

E com esta falta de assunto chegamos ao fim do primeiro capítulo. Foi rápido, mas a culpa não é minha. Deve estar quase a começar o Homem-Aranha 2 e, ainda antes disso, o documentário In the Alqueva’s Arms está a despertar a minha atenção. Depois conto como acabam. Tenho só de registar isto:

[1] Para o blogue: entradas ‘a minha estação preferida’, com uma fotografia da minha estação preferida; e ‘os cadernos do laçarote’, com estes apontamentos.

[2] Para o iTunes: sacar o hit-single clássico ‘Era um Bikini Piquinino às Bolinhas Amarelas’, de Pedro Osório e Seu Conjunto.

[3] Entretanto: nunca tinha visto ninguém comprar tanta coisa no on-board shopping: quatro perfumes, três relógios, quatro isqueiros, “dois destes e um daqueles”. Só faltou uma OPA sobre o capitão João Rodrigues.

[4] O número Nov / Dez da revista TAP Atlantis tem na capa uma foto-montagem de campinos a passearem pelas ruas gélidas de Oslo. Está bem que os destaques eram esta cidade e Santarém, mas porque não a Helena Christensen e amigas dentro de um caldeirão de sopa da pedra? Ainda assim, um número a não perder.


13h40

E agora não consigo parar. Ao som do – deixem-me ver… - ‘Mega-Mix’ dos Boney M no canal 6, playlist ’45 rpm’, leio a crónica do Lobo Antunes na Visão, folheio a revista do on-board shopping e interrogo-me porque teima o Calvin Klein em implicar comigo, possuindo os seres que foram, em diferentes alturas, de idade e de juízo, por mim ansiadas, centerfolds de eleição de qualquer opúsculo que decidisse publicar subordinado ao tema ‘Mulheres para Além da Compreensão Humana’, e pergunto-me porquê substituir a definitiva Christy Turlington do Eternity pela vaporosa Scarlett Johansson do Eternity Moment e o que será isso do Eternity Moment. Será como os Magnuns?, em que os normais são só para nós e os Moments não passam de pequenas delícias para uma trincadinha com o café? Ai, onde estará aquele sofá do Obsession forrado com as peles da Cátia Musgo?