quinta-feira, fevereiro 16, 2006

game, set & match



Ponto prévio: odeio o Jonathan Rhys Meyers. Poucas pessoas terão um ar tão idiota e inútil como este modelito transvestido de autor, cujo rosto consegue juntar o que de mau tem o Russell Crowe (tudo) com o que de péssimo tem o Gael García Bernal. É um autêntico trongo, é feio e participou no Velvet Goldmine, uma coisa que nunca pensei poder chamar-se de cinema.

Posto isto, posso começar este pequeno comentário sobre o filme Match Point, tarefa que desempenho a pedido e com o tempo contado (estou com sono), pelo que peço a vossa compreensão para eventuais falhas no relato.

Começando precisamente por Jonathan Rhys Meyers, é a muito custo que sou obrigado a afirmar que se sai bem no seu papel de Chris Wilton, um obscuro instrutor de ténis cuja fortuita e meteórica ascensão social é assombrada pela atracção que sente por Nola Rice (Scarlett Johansson), a sua ex-futura-cunhada. Tirando as péssimas pancadas exibidas nas cenas em que é obrigado a empunhar uma raquete de ténis e as episódicos desvios para o modeling, Rhys Meyers compõe uma boa personagem, levando os espectadores a uma constante desconfiança, nunca ultrapassada, sobre as suas motivações e o carácter dúbio e amoral do seu comportamento.

O filme não é mau, vê-se bem, e confesso que me agradou. Pondo de lado as considerações desnecessárias sobre a cidade (de Nova Iorque para Londres), sobre a música (do jazz para a ópera) e sobre o próprio, sobressai que Woody Allen procurou construir um drama em que, partindo da premissa de que a sorte joga um papel mais importante nesta vida do que a vontade de todos nós juntos, nos mostra como são vãs as tentativas de as controlar - quer a vida, quer a sorte -, mesmo para aqueles, como Chris Wilton, que parecem perfeitamente conhecedores desse facto. Este objectivo é perseguido por Allen ao longo de todo o filme, servindo-se, para isso, de alguns episódios aparentemente inverosímeis, como a decisão de Chris Wilton que acaba no confronto com Nola Rice e com a sua vizinha Mrs. Eastby; o qual, não obstante, é essencial para o twist que a história terá mais tarde, uma vez mais a favor do seu protagonista.

No final não há surpresas, nem isso é comum a Woody Allen. Depois de um jogo de sorte guiado pela ambição e pelo desejo, anulado deliberadamente o amor (se existiu, foi apenas entre Chris e a sua esposa, Chloe; e Woody Allen serve-nos como o factor mais controlável da vida, usando de indisfarçável ironia), fica apenas o conformismo. E a certeza de que Chris Wilton se decidiu por aquilo que qualquer um de nós se decidiria.

Apesar de ter gostado do filme, como já afirmei, não sei que nota lhe daria numa classificação crítica. Agora, passado algum tempo desde que o vi e obrigado a revisitá-lo através deste texto, parece-me melhor do que o achei quando saí do cinema. Em todo o caso, tenho a certeza de que já vi Woody Allens melhores, mesmo que não me lembre da história de nenhum: no mesmo registo, cito (com imprecisão) o Maridos e Mulheres, o Uma Outra Mulher e o Setembro; e sobre a mesma temática, recordo-me do Crimes e Escapadelas.

O que não compreendo são algumas das críticas publicadas pelos chamados "jornais de referência", que, baralhados sobre o que dizer, resolveram tecer elogios ditirâmbicos e, simultaneamente, incoerentes. Algures entre o Público e o Diário de Notícias, consegui ler, na mesma frase, que este era o melhor filme da última década de Woody Allen e que o último filme decente tinha sido o As Faces de Harry, de 1997. Ora, não querendo perder tempo com o preciosismo de uma década contemplar dez anos, custa-me perceber um elogio que se sustenta no facto de nenhum filme do período em questão ter qualidade para se rotular um outro como «o melhor da década». No que é que ficamos? É o melhor dos piores?

Para o fim ficou um assunto muito caro a 95% da blogosfera (masculina) portuguesa: Scarlett Johansson. Eu sei: devia ter avisado no início que só a mencionava no último parágrafo para seguirem directamente para aqui, mas a hora vai alta e já não estou a ver muito bem o que estou a escrever.

Está mais gorda, é um facto (mau começo). Mas não foi por isso, nem para vos (des)agradar, que a deixei para o fim. A questão é que a sua personagem é a mais incómoda de se analisar de todo o filme. A Nola Rice que nos aparece na cena do desafio de ténis de mesa não é a mesma com que ficamos no final do filme. Ao longo da história, aquela que parecia uma versão feminina de Chris Wilton transforma-se, acabando como a fiel depositária da simplicidade inicial do seu antagonista. Como personagem, Nola parece a mais fraca, mais incongruente e menos trabalhada, o que não ajuda a empresa de Scarlett Johansson, cada vez mais longe da ninfeta suspirosa de Lost In Translation. Como se explica o facto de a sua faceta ambiciosa permitir-lhe estar com Tim sem o amar (confessa-o a Chris) e, mais tarde, não procurar outra situação semelhante e contentar-se com o que Chris lhe dá?

Mas visto com atenção, Nola representa o contraponto perfeito à sorte de Chris, uma espécie de órfã do livre arbítrio, sem ambição, que se contenta com o que vai tendo, que não vai a jogo e, até determinado momento, vê a sua sorte no homem com quem está envolvida - aquele que ela deseja.

Talvez seja ela a chave deste filme. Talvez Woody Allen não tenha enterrado irremediavelmente o amor. Se calhar, o amor teve apenas pouca sorte desta vez.

8 scone(s)

Às 16/2/06 10:07, Blogger ar disse...

Posto isto...
PObre de mim se me atrevo alguma vez a comentar um fime. Deixemos isso pra quem sabe!
Muito gosto em ler. Obrigada pela sua preciosa opinião. ;)

 
Às 16/2/06 21:05, Anonymous Anónimo disse...

ah, isto agora é um blogs desses?

 
Às 17/2/06 12:47, Anonymous Anónimo disse...

muito bom o comentário.
gostei de ler.

 
Às 19/2/06 22:32, Blogger Poor disse...

até qu'enfim!

 
Às 21/2/06 00:50, Anonymous Anónimo disse...

Eu gostei do comentário e da foto do verdadeiro Big Mac

 
Às 27/2/06 09:41, Blogger Duarte disse...

E que tal, Amie? A tua impressão foi outra, não foi?

Folgo em saber que ainda há quem reconheça o verdadeiro Big Mac

 
Às 27/2/06 09:53, Blogger Duarte disse...

Os restantes que me desculpem, pensava que já tinha respondido.

Agradeço a simpatia!

 
Às 3/3/06 00:18, Anonymous Anónimo disse...

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eu gosto do jonathan rhys meyers.
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e acho que falta alguma versatilidade à senhorita scarlett johansson.
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mas que os dois têm lábios compatíves, lá isso têm.
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