quinta-feira, dezembro 30, 2004

cadernos do laçarote – XIII

bairro dos coqueiros
30.Dezembro.2004
12h59 em Portugal



Pior. Estou de cama e só de lá saí para escrever isto e actualizar velhos apontamentos. Em consequência disto, a ida a Cabo Ledo ficou novamente adiada, talvez para uma próxima viagem.

Vocês devem estar todos a rir. Depois de gabar o clima, o calor e a boa vida vezes sem conta, agora toma lá que é bem feita!, para não estares a gozar o bem bom e a aproveitares para gozar com os outros. Já estou arrependido.

Com o ar condicionado desligado, confundo a minha própria temperatura com a temperatura exterior, desconhecendo se o que me faz suar é a febre, se o calor que está dentro de casa, se ambas. Para tentar enganar o tempo, tenho-me dedicado a actividades neo-colonialistas politicamente correctas, como ouvir CDs do Paulo Flores e ler livros do Pepetela. Hoje de manhã despachei O Desejo de Kianda, uma história engraçada que não afastou as minhas desconfianças sobre a chamada ‘literatura africana’.

Agora vou voltar à cama e conversar um bocadinho com a minha expectoração. Amanhã estarei fino, acreditem.

cadernos do laçarote – XII

bairro dos coqueiros
29.Dezembro.2004
18h36 em Portugal


Más notícias, tropas. Não, não estou a aturar o professor Higgins no My Fair Lady do La Féria na RTP Internacional – isso foi há dois dias. Mas a mistura de ares condicionados com fumo de tabaco fez com que a febre subisse e as dores de garganta aumentassem. Passei o dia inteiro incomodado, a espirrar e a assoar-me, suando sob um calor abrasador. Ainda cheguei a ficar contente, pois lembrei-me logo que um diário de viagens não é nada até que o narrador comece a sofrer de maleitas exóticas, febres, delírios, diarreias. O que seria do Bruce Chatwin sem o escorbuto? Quem seria o Paul Bowles sem as febres hemorrágicas e as alucinações do deserto? Só que eu tenho apenas uma constipação, coisa nada nobre e pouco rara para perder tempo a descrever.

A principal – e única – actividade de hoje foi um almoço, que acabou há pouco tempo. Em casa da dona Rosário, foram servidas lagostas, caranguejos, gambas, camarão, porco, vaca, pudim, conversa e kizomba. Estava tudo delicioso e só acabou assim tão cedo porque a dona Rosário tinha um jantar às 20h30 e um casamento depois do jantar…

Acabado o repasto, entremeado por vários lenços de papel, guardanapos e Mebocaínas, vim para aqui, exclusivamente para vos escrever isto, ver as locutoras de continuidade da televisão pública local e ir para a cama com um bule de chá, mel e limão. Desejem-me sorte.

quarta-feira, dezembro 29, 2004

cadernos do laçarote – XI

bairro dos coqueiros
28.Dezembro.2004
23h06 em Portugal





Tríptico ‘Dirty Harry’

Desconheço qual o calibre. Esta imagem é de um buraco provocado por um disparo que atingiu há uns meses o carro em que me desloco. Houve um assalto à luz do dia na rua onde se encontrava estacionado e um segurança que estava de serviço começou a correr e a disparar contra o assaltante em fuga. A bala conseguiu desviar-se das muitas pessoas que circulavam pela rua e furou o guarda-lamas do jipe, atravessando-o, qual indefectível do tuning.

Não pensem por isso que há pouco segurança na cidade. Aliás, se há algo que não falta é segurança – há seguranças em todas as montras, cafés, restaurantes, lojas, bancos, repartições, elevadores (são raros os que funcionam) e casa sim, casa não. Os porteiros dos prédios, por exemplo, não são velhotes simpáticos ou rezingões chamados senhor Álvaro ou senhor Raposo; antes seguranças iguais aos outros - jovens fardados com uniformes de caqui e botas militares.

Isso faz com que os meliantes tenham de pensar duas vezes antes de agir; e, mesmo que à segunda vez decidam pintar a manta, ainda há as Kalashnikovs ao ombro para os dissuadir. A Kalashnikov é um acessório essencial para estes homens, condenados a passar dias inteiros em cadeiras velhas à porta dos bens e serviços que defendem. Os polícias também as têm, mas optam por uma pose mais descontraída, usando-a permanentemente na mão como se fosse um rádio ou um telemóvel. Por falar nestes, acho que ainda não houve sítio nenhum onde tenha ligado o meu e não conseguisse rede; isto desde a cidade até à zona mais inóspita onde estive. Acreditem: não há muitos telemóveis em Portugal.

cadernos do laçarote – X

clube naval, ilha
28.Dezembro.2004
18h30 em Portugal


Olá. Esta vai ser rápida, para vossa e minha satisfação. O gin pouco ajudou e estou com uma ligeira febre e dores de garganta. Já fui consultar todo o arsenal farmacêutico que trouxe de Portugal, mas são tantas caixas que não consigo perceber o que é para o paludismo, para as alergias, para as picadas de insecto, para as diarreias, para a febre, para tudo o resto que ainda não tive. Vou tomar dois ao calhas e logo se vê se mudo mais tarde.

A intenção inicial do dia de hoje era descer até Cabo Ledo, passando pela Barra do Kwanza. Infelizmente, o tempo não ajudou. A chuva que caiu durante a manhã, apesar de em pouca quantidade, é suficiente para impedir a circulação em algumas vias, pelo que optámos por viajar até ao Bom Jesus, a meio-caminho do itinerário inicialmente planeado.

No caminho de ida fizemos uma paragem em Viana, se o meu coração não me engana (piada brilhante, Duarte!; muito inesperada).A portuguesa Marisqueira Viana estava já a servir o bacalhau à Gomes de Sá que tinha como prato de dia – eram onze horas da manhã -, mas ficámo-nos por uns cafés. Apanhando a estrada do Catete, seguimos tranquilamente e – esta tenho de contar – vimos um macaco a atravessar a estrada! Desculpem se perdi o estilo nesta frase, mas fiquei mesmo emocionado! Ufa! Adiante! E assim chegámos ao Bom Jesus.

O Bom Jesus é uma pequena povoação nas margens do rio Kwanza que, hoje em dia, resulta apenas dos resquícios de edifícios coloniais sem qualquer manutenção. A antiga exploração de cana-de-açúcar, hoje desactivada, deu lugar a uma fábrica de águas; se bem que esta não seja a principal razão pela qual o Bom Jesus é conhecido: no meio da selva, é aqui que se encontra uma fábrica da Coca-Cola. Não, não é piada, nem estou a brincar com esse filme que viram há muito tempo - há realmente uma fábrica da Coca-Cola. E é selva mesmo, com o rio a sugerir a existência de crocodilos e de outros predadores; para além da Coca-Cola, claro.


O rio Kwanza no Bom Jesus

O almoço foi mesmo por aí, servindo de preparação para a segunda parte da viagem, em direcção a Catete. Aqui, tirando o lado histórico, poucos motivos de interesse foram encontrados.

Já no regresso à cidade, passámos pelo mercado da Estalagem, tão igual a todos os outros – de tudo, para todos. Acontece que nem é necessário frequentá-los para comprar seja o que for. Em vinte minutos de trânsito, perto do bairro dos cubanos, em que avançámos cinco metros, vi os miúdos de rua passarem pelo carro com os seguintes artigos para venda: água, sumos, bolachas, jantes, capas para telemóveis, ventoinhas de chão, aparelhagens, perfumes Kenzo, Lacoste e Calvin Klein, lâminas de barbear, máquinas de café, camisas, gravatas, volantes, DVDs, faqueiros, estofos, candeeiros e fico-me por aqui, que já é tarde…

O final do dia está a ser passado aqui, na esplanada sobre o mar do Convés, restaurante do clube naval da ilha, onde provei umas quitetas fresquíssimas (casquinhas parecidas com amêijoas) que só não vos dou a provar porque alguém acabou com elas. Entretanto, o sol já se pôs e as constantes falhas no gerador dizem-nos que são horas de voltar a casa e de preparar o dia de amanhã.


Cidade e baía vistas do Convés

P.S.: Não tenho a certeza que o rio acima mencionado seja realmente o Kwanza ou apenas um afluente. Como ninguém parece saber por aqui, fica a descrição tal como estava.

cadernos do laçarote – IX

jango da dona jóia, museu da escravatura
27.Dezembro.2004
13h37 em Portugal



«Cuca p’a mim, Cuca p’a ti!...»

Cancelada que foi a visita ao porto, cortesia adiada de um despachante desta terra, accionámos o plano B e viemos à praia perto do museu da escravatura.

Estou a escrever de um jango em plena praia, com o mar à minha frente, calmo e envergonhado, guardado por uma legião de pequenos caranguejos de uma só tenaz que parecem dar vida própria à areia da praia, tal a sua quantidade e a forma como se movimentam. Os mais próximos de mim parecem agora retirados d’A Menina do Mar, observando-me e ginasticando as suas patas, como que a acenarem ou a chamarem-me para as festas do Rei dos Mares.

O almoço foi picanha e feijão preto, cozinhado aqui mesmo na praia, o que não impede que dois inexperientes pescadores de cana e uma nadadora de reexportação estejam já a desafiar as águas tépidas à minha frente. Eu fiquei por aqui, a passear pela praia e a fotografá-la, inspeccionando os outros jangos e caminhando até ao Museu da Escravatura. Corroborando a minha ideia de que a ‘teoria dos sete graus de separação’ não se aplica neste país, o jango a seguir a este é do vizinho de baixo do prédio que o meu pai habita na cidade, marido da tia de um amigo meu que já cozinhou funge para mim, por coincidência, numa viagem que fez a Lisboa (sim pá!, isto aqui ao lado é dos teus tios).


Do jango da Dona Jóia

Infelizmente para vocês (e para o meu incompetente domínio da língua portuguesa), a paisagem é demasiado bela para sequer tentar descrevê-la: a praia, lodosa e com algum limo, é orlada por vários jangos como este. A areia e o mar brincam um com o outro, num jogo de reentrâncias e de línguas que amparam o terno refluxo das águas. Paradas sobre estas, algumas aves bicam a areia e ensaiam poses para o portfólio do canal Odisseia. A tranquilidade abrigada pelo Museu da Escravatura, num pequeno promontório à esquerda do quadro, edifício de clara inspiração católico-colonialista cercado por um pontilhado de embondeiros a várias alturas, apenas é perturbada por barcos que cruzam as águas e pelos risos e conversas da família que ocupa a ponta direita da praia, a brincar despreocupadamente dentro de água. Imitando a própria vida por estas paragens, o horizonte é já aqui, bem à vista: palmeiras numa coluna contínua de vegetação, umas integrando-se, outras mais saídas, com as folhas bem evidentes recortadas no céu, areia e praias desertas, tudo numa ilha defronte de mim, que fecha o horizonte desta praia ao longínquo mundo que não lhe pertence.


bairro dos coqueiros
27.Dezembro.2004
23h06 em Portugal


Acabei agora de passar os apontamentos relativos aos dias de hoje e de ontem. Desde a última vez que escrevi, deu-se o meu regresso a casa, com passagens pelo mercado de Benfica, conhecido pelo artesanato e do qual apenas foi possível ter uma ideia a meio-gás, e pelo musseque Rocha Pinto, talvez o maior da cidade e impressionante pelas dimensões que tem, com as pobres habitações a formarem ruas labirínticas por entre água das chuvas, lixo e vias rápidas com mais carros do que espaço e mais pessoas do que carros.

cadernos do laçarote – VIII

bairro dos coqueiros
27.Dezembro.2004
22h32 em Portugal


Ah, maravilha! É kizombada e kuduro a noite inteira, seja sábado, domingo, dia de Natal ou de semana. Até o Tom Waits que estou a ouvir me parece africano – confiram a faixa 2 do Real Gone. Ou será que estou a ser atacado pelas febres?

Pelo sim, pelo não, vou levantar-me e preparar um gin tónico. Afinal de contas, o quinino é a melhor profilaxia para a malária e o gin é um óptimo excipiente…

cadernos do laçarote – VII

travessa engrácia fragoso
26.Dezembro.2004
18h25 em Portugal


Sentado na sala a ver canais de televisão portugueses, estremeço ao aparecer-me o Pedro Mexia no ’Eixo do Mal’: t-shirt, camisa e pullover. Esta imagem faz-me correr até à cozinha para atestar um copo com água gelada. Ao regressar à sala, mudo para a RTPi e sou presenteado com uma reportagem sobre a qualidade da água nos concelhos alentejanos, demasiado má para consumo humano. Resultado final: 2-1 para esta região, com o empate da água a ser desfeito pela temperatura que aqui se tem em Dezembro.

Hoje foi um dia com muita quilometragem, o que possibilitou o meu primeiro contacto com terrenos fora da capital.

O dia no exterior iniciou-se no Rialto, restaurante-bar na avenida marginal. Inspirados pelas pratalhadas de batatas fritas que vimos servidas à mesa do canto, partimos em direcção à Barra do Dande, numa viagem guiada pelo autóctone Vadinho. Saindo para norte, tive o meu primeiro contacto com a Boavista, musseque construído ao longo de uma barroca sobre o porto e que esconde o famoso mercado do Roque, verdadeira loja de conveniência onde se pode encontrar tudo a céu aberto, desde esquentadores, medicamentos, couves e fruta, granadas, areias e britas, mercenários ou tabaco. Na estrada imperava o caos, como sempre impera. Sem regras, o trânsito faz-se de buraco em buraco, nas estradas e nas bermas, esquerda direita ziguezagueando entre as Hiaces dos candongueiros (motoristas de táxis particulares, não oficiais, que fazem corridas com velhas carrinhas das cores das Nações Unidas atulhadas de gente), pobres chaços a precisar de reforma e os últimos modelos da indústria automóvel, jipes, SUVs e desportivos que nunca se viram em Portugal. Ao longo da estrada está a população, ora a vender o que quer que tenham conseguido arranjar, ora a dançar, a correr, a olhar e esperar que passe o tempo.


Musseque da Boavista

Mais adiante, viramos numa curva à direita para uma estrada de terra batida, a subir em direcção a um terreiro com algumas estruturas de madeira e palhinha, barracas e caramanchões. Os jipes ficam logo rodeados de crianças, que os acompanham correndo até ao local onde é possível estacioná-los. É a chegada ao mercado da Vidrul.

Os miúdos, mal saímos, colaram-se a nós, pedindo as ‘boas festas’, a ‘gasosa’ (expressões utilizadas para pedir dinheiro) ou tentando vender sacos de plástico para as compras no mercado. Olhando em redor, a imagem é a que se habitualmente se imagina de África, só que demasiadamente real. Enquanto comprávamos fruta e vegetais às mulheres que estavam no chão, uma mola humana acompanhava-nos, sem nos incomodar, sem nos tocar, sem violências, apenas com o silêncio da sua imploração e pedidos; indefesos, muito mais do que nós, quatro estranhos cercados num meio que não era o seu.

Seguimos viagem pela estrada do Cacuaco, correndo ao longo da conduta de abastecimento de água da capital. As guaritas de poucos em poucos metros atestam a importância que estes tubos tiveram durante a guerra, ideia reforçada pelos postos de controlo da polícia, semi-desactivados, que filtravam as estradas e saídas da cidade por esta estrada. À medida que nos afastamos, o trânsito, cada vez menos, torna-se inversamente proporcional à qualidade das estradas e a paisagem, passada a cidade e os musseques, torna-se mais verde, avistando-se os primeiros embondeiros, com os seus grossíssimos troncos retorcidos e características folhas a guardar as múcuas. Já depois de um desvio para uma estrada secundária, os últimos quilómetros antes da barra são feitos num caminho sempre em direcção ao mar, com troncos de palmeira a ladearem a estrada e uma abundante mancha de borboletas brancas sempre diante de nós, a soltar-se constantemente da vegetação ao longo do caminho.

A barra do rio Dande, ainda – e felizmente – pouco explorada, conta com meia-dúzia de casas, maioritariamente de pescadores. São estes que possibilitam a passagem de uma margem para a outra, onde uma cama de areia com palmeiras à cabeceira promete bom descanso. Também são eles que permitem que possamos ter dois pequenos tubarões nas nossas mãos para posar para a fotografia. A boa-vontade partiu de um casal que encontrámos na margem, preparando o produto da última pescaria: ele, de faca na mão, a cortar e a limpar o peixe; ela, igualmente de cócoras e com o filho às costas descaído sobre a cintura, a lavar as peças que ele lhe dava e a prepará-las para a venda.


Barra do Dande

Voltámos para trás pela mesma estrada e o almoço fez-se na Panguila, num jango (construção rústica de canas, madeira, palhinha e folhas de palmeira feita para abrigar reuniões, almoços, convívios) à beira da estrada. A ementa foi a que habitualmente se pede aí à família da Antónia: cacusso, feijão de óleo de palma, banana, mandioca e farinha. Uma boa refeição, passe as moscas, interrompida por alguns vendedores de artesanato, músicos e pela evidência da simplicidade do céu africano.

O regresso pouco mais teve para contar. Já na capital e antes de aqui chegar, fomos até à Cidade Alta, zona isolada da cidade que alberga o palácio presidencial e os principais edifícios governamentais. O contraste com o resto da cidade, apesar de previsível, é completamente desconcertante, parecendo Copenhaga, por comparação, uma cidade suja e confusa. Aproveitámos também para fazer uma passagem pelos terrenos já vindimados da Samba, da Corimba, do bairro Azul e da praia do Bispo, numa busca a velhas construções encomendada por antigos colonos. Não as identificámos; talvez nunca se tenham identificado.


Pôr-do-sol visto da Corimba

segunda-feira, dezembro 27, 2004

cadernos do laçarote – VI

a sair da banheira, casa de banho
26.Dezembro.2004
9h18 em Portugal


Já vos disse que não há água quente nesta casa?


a sair da casa de banho
26.Dezembro.2004
9h19 em Portugal


Estou seco e cheio de calor.

cadernos do laçarote – V


Obrigado, Dinis!

Estou a escrever directamente no computador que aqui tenho utilizado para poupar tempo, aproveitando o facto de estar a passar algumas notas do meu caderninho e de estar a apagar as fotografias de hoje em que não fiquei lá muito bem (não, neste não tenho o Photoshop). É uma combinação que nunca me imaginaria a utilizar – um HP e uma Pentax -, mas a necessidade é uma coisa muito bonita.

Aparentemente, foi dia de Natal. Digo aparentemente porque só me fui lembrando disso a espaços, nos momentos em que procurávamos um local para beber café (“hoje, fechado? Porquê?”) e quando se cruzavam connosco alguns gorros vermelhos perdidos pelas ruas. De resto, o cenário não é o mais propício para imaginar renas, pinheiros cobertos de neve e velhos alvos vestidos com roupa quentíssima. Claro que se cumpriu a Lei de Murphy e confirmaram-se os pratos do almoço, almoço esse que ocupou grande parte do dia. Tirando o repasto, as únicas actividades foram duas idas à ilha, para uma água no Ponto Final e um batido de papaia ao pôr-do-sol no Veleiro. Esta última foi uma boa saída para um final do dia na praia, na esplanada de um renovado bar de madeira a olhar o mar e a sonhar com os kite-surfers que aproveitavam a brisa que agitava as palmeiras. Já cheguei a casa há algum tempo, mas sinto-me cansado e ensonado como se fosse já noite alta.

Estão à espera de descrições, opiniões, juízos de valor e pensamentos, não é? Humm… Não posso só contar uma anedota com freiras, loiras ou nazis e vocês esquecem isso, prometendo continuar a ler este blogue? Duas anedotas? Três anedotas, um bolo de arroz e dez euros de chamadas incluídas? Não, não é preguiça. Isto é muito diferente da Europa (boa!, o primeiro lugar-comum), estou cá há pouco tempo e não sei sequer o que penso. Vou tentar escrever qualquer coisa, mas pararei assim que achar que não faz sentido.



Parei.

Bem, alguns dados gerais para começar. De acordo com material pilhado à Diciopédia 2004 (hiperligação não disponibilizada por considerá-la uma má enciclopédia; não obstante, a única a que aqui tenho acesso), o país tem dez milhões de habitante (parece-me pouco) e uma área de 1.246.700 km2. A área é grande, posso assegurar-vos, e só tenho pena de não conseguir convertê-la da unidade ‘quilómetros quadrados’ para a unidade ‘campos de futebol’, para que possam ter uma noção mais apurada da sua dimensão. Só na capital, diz a Diciopédia, vivem dois milhões de pessoas, mas perguntei na rua e garantiram-me que seriam pelo menos quatro milhões. Os indicadores económicos não são os mais próximos dos da China e os índices demográficos e de qualidade de vida afastam-se um pouco dos valores atingidos pela Suécia. Principais recursos: petróleo e diamantes.

Por hoje fico por aqui. Já têm material suficiente para impressionar em conversas de café e círculos intelectuais light. Volto quando puder.

domingo, dezembro 26, 2004

cadernos do laçarote – IV

noite da Consoada
24.Dezembro.2004
23h53 em Portugal


Ora bem, por onde começar? Inspirado pelo barulho do ar condicionado que irá acompanhar-me novamente durante esta noite, decido-me pela temperatura.

A minha primeira constatação, cientificamente provada e empiricamente incontestável, é que seguir os conselhos médicos far-me-á perder metade do gozo. Na consulta do viajante do Instituto de Higiene e Medicina Tropical fui alertado para os perigos da malária e para as melhores formas de a prevenir: muito repelente de insectos, janelas fechadas e ar condicionado a carburar quando em casa, precauções extra para as primeiras e últimas horas de sol e… corpo o mais tapado possível, especialmente na zona dos pulsos e dos tornozelos. E aqui é que estamos mal, pois grande parte da piada está em poder andar de calções, sandálias e manga curta em Dezembro, com ou sem chuva e ainda sentir calor assim.

Já decidi que andarei à vontade, convencendo-me a mim próprio que é tão provável apanhar malária como acertar no Euromilhões. Para além disso, se conseguir sobreviver às contra-indicações e efeitos secundários da medicação, também consigo escapar à doença.

O calor é muito, é sim senhor. Mal pus o pé fora do avião, senti-me como num banho turco, chegando completamente suado ao autocarro que me esperava dez metros adiante. Não percebi se foi da diferença para o Inverno português ou do calor da pista e do avião, mas não mais senti aquele sopro quente tão abafado. É quente, mas é bom.

Por razões de Estado, não poderei descrever a minha passagem pelos serviços do aeroporto, deixando essa tarefa para a vossa imaginação, que antecipadamente elogio. Mas passando por precipitado e piroso, poderia descrever as ‘sensações’ que aqui encontrei, o tempo que tarda a passar, o ‘outro ritmo’, o nascer e o pôr do sol, o encantamento de África. Só que acho que já somos todos crescidinhos e já tivemos a nossa oportunidade para ver o África Minha, o que me leva a pedir que, para os que já não se lembram ou nasceram depois de 1985, comprem ou aluguem o DVD na loja mais próxima.

Perguntaram-me, quando me aproximava da cidade: «É melhor ou pior do que pensavas?». Eu pedi a ajuda dos 50 / 50 e continuei indeciso, simplesmente por não ser nem melhor nem pior do que eu pensava, simplesmente porque não pensava nada e ainda faltam alguns dias para me ir embora e poder ficar com aquela ‘ideia’ que, idiotamente, passarei a vender a toda a gente que me inquirir sobre isto, validando-a como juízo certeiro, absoluto e irrevogável. Mas apontei a ausência do Burguer King como aspecto negativo.


bairro dos coqueiros
25.Dezembro.2004
09h32 em Portugal



Vista da minha manhã de Natal

Acordei tarde e com frio. Sim, menti, menti muito na entrada anterior. Afinal, parece que segui uma ou outra indicação da dr.ª Nídia e passo as noites de porta fechada e com o ar condicionado numa temperatura relativamente baixa, a fim de afastar os OVNIS que por aqui pululam.

Ontem adormeci sem me dar conta, embalado por dois telefonemas intercontinentais e pelas kizombadas que vinham algures lá de fora, talvez da discoteca que fica a dois quarteirões –uma maneira de dizer, esta dos quarteirões – deste quarto andar, talvez de uma das centenas de casas particulares onde o Natal é passado ao som das estrelas locais da world-music.

Já me tinham dito que este era um país cheio de esquemas, mas nunca pensei ser enganado na minha própria casa. Quando cheguei, tentaram logo conquistar-me, mas não desconfiei de nada. Apesar de já ser noite, levaram-me a passear pela ilha, pela marginal e pelo centro da cidade, introduzindo-me no meio e falando-me da beleza do mar, de dias de praia e de pescaria e de marisco fresco como nenhum outro, em quantidades tais que bastaria levar as mãos à agua que viriam lagostas presas aos meus dedos. Aliás, já antes de chegar me tinham dito que a arca estava cheia, com as maganinhas prontas a serem suadas, assadas, fritas ou grelhadas.

E o que aconteceu? Algo que nunca tinha vivido: uma consoada tradicional portuguesa, com muita gente à mesa, bacalhau, couve e bolo-rei. Eu que, em Portugal, como bifes e ovos mexidos na consoada!

Foi uma desilusão. Peixe da Noruega e da Terra Nova, quando ali ao lado tinha um mar com lagostas decididas a praticar eutanásia só para me satisfazerem. E o pior é que fiquei a saber junto da organização que o almoço de Natal seria A-I-N-D-A mais típico, com peru, pataniscas e cabrito (isto é típico, não é?). E ainda me cravaram ajuda. Depois de árduas negociações, fiquei responsável pela mesa e empratamento, tarefas que desempenhei com doses iguais de prazer e de ignorância.

Como vêem, não se pode confiar em ninguém. Enrolaram-me com o mais importante, mas ainda desenrasquei umas voltinhas pelos bairros da cidade, pela ilha, pelo mausoléu, um passeio até ao embarcadouro e um ou outro seminário sobre musseques, micro-crédito, gastronomia local e circulação rodoviária e pedonal (nunca caíram dentro de uma tampa de esgoto partida, pois não?).

Agora vou deixar-me disto e chamar o meu pai para abrirmos as prendas. Espero que vocês se tenham safado; e, já agora: Feliz Natal!

cadernos do laçarote – III


Vertigem da primeira noite

cadernos do laçarote – II

bairro dos coqueiros
23.Dezembro.2004
22h22 em Portugal


É sempre bom estarmos longe de casa e, ainda assim, podermos ver o maioral da Lusomundo, da Lusa e do Diário Digital na SIC Notícias a fazer as vezes de comentador político e a iniciar as suas intervenções com decididos 'É assim'…

sexta-feira, dezembro 24, 2004

cadernos do laçarote – I

voo tp 2253
23.Dezembro.2004
13h07 em Portugal


O voo saiu com atraso e estou agora a sobrevoar as montanhas do Atlas. Bem, talvez não sejam exactamente as montanhas do Atlas e estas estejam um bocado mais lá ao fundo; talvez não possa precisar isto por estar um manto branco que me impede de ver qualquer coisa lá fora para além da asa do avião – a única coisa que não queria ver. Não sei por que é que calho sempre nestes lugares; sei, é para ficar a olhar lá para fora constantemente e imaginar que a qualquer momento vai saltar uma parte da fuselagem ou as turbinas vão parar.

Assumamos então, por conveniência da narrativa, que estou a sobrevoar as montanhas do Atlas e… Agora aparece-me um deserto plano!... Pronto, não são as montanhas do Atlas, mas diabos me levem se não é igualmente bom: planície a perder de vista, de tons castanhos e apenas interrompida pelas sombras negras com que as nuvens as pintam. É, árido, isso mesmo.

Não sei porquê, mas apetece-me contar duas ou três mentiras, metidas numa historieta fantástica com tribos, antepassados nómadas e expedições iniciáticas, para dar nobreza a isto. Receio apenas que o Bruce Chatwin já tenha inventado todas as mentiras de viagem possíveis e imaginárias, pelo que deixarei para um momento em que estejam mais distraídos.

E com esta falta de assunto chegamos ao fim do primeiro capítulo. Foi rápido, mas a culpa não é minha. Deve estar quase a começar o Homem-Aranha 2 e, ainda antes disso, o documentário In the Alqueva’s Arms está a despertar a minha atenção. Depois conto como acabam. Tenho só de registar isto:

[1] Para o blogue: entradas ‘a minha estação preferida’, com uma fotografia da minha estação preferida; e ‘os cadernos do laçarote’, com estes apontamentos.

[2] Para o iTunes: sacar o hit-single clássico ‘Era um Bikini Piquinino às Bolinhas Amarelas’, de Pedro Osório e Seu Conjunto.

[3] Entretanto: nunca tinha visto ninguém comprar tanta coisa no on-board shopping: quatro perfumes, três relógios, quatro isqueiros, “dois destes e um daqueles”. Só faltou uma OPA sobre o capitão João Rodrigues.

[4] O número Nov / Dez da revista TAP Atlantis tem na capa uma foto-montagem de campinos a passearem pelas ruas gélidas de Oslo. Está bem que os destaques eram esta cidade e Santarém, mas porque não a Helena Christensen e amigas dentro de um caldeirão de sopa da pedra? Ainda assim, um número a não perder.


13h40

E agora não consigo parar. Ao som do – deixem-me ver… - ‘Mega-Mix’ dos Boney M no canal 6, playlist ’45 rpm’, leio a crónica do Lobo Antunes na Visão, folheio a revista do on-board shopping e interrogo-me porque teima o Calvin Klein em implicar comigo, possuindo os seres que foram, em diferentes alturas, de idade e de juízo, por mim ansiadas, centerfolds de eleição de qualquer opúsculo que decidisse publicar subordinado ao tema ‘Mulheres para Além da Compreensão Humana’, e pergunto-me porquê substituir a definitiva Christy Turlington do Eternity pela vaporosa Scarlett Johansson do Eternity Moment e o que será isso do Eternity Moment. Será como os Magnuns?, em que os normais são só para nós e os Moments não passam de pequenas delícias para uma trincadinha com o café? Ai, onde estará aquele sofá do Obsession forrado com as peles da Cátia Musgo?

quinta-feira, dezembro 23, 2004

tp 2253

Até já.

«Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.»

Mário de Sá-Carneiro


Aqui foi onde esteve o outro.

quarta-feira, dezembro 22, 2004

as palavras, as conversas, a vida, os segredos...

Haverá alguma coisa que não seja 'como as cerejas'?

oh, oh, oh!

Por esta altura, já devem estar como eu: desesperados por verem o contentamento estampado nos rostos com que se cruzam e com que trocam votos de bom Natal, a invejar os embrulhos dos anónimos nas ruas e a recordarem-se que, em vossa casa, existem apenas dois ou três presentes deixados pelos familiares do costume (tia Fernanda, primo Luís e Margarida), a deixar adivinhar mais um conjunto de meias de desporto (três pares, de cor branca e com motivo invariável), um after-shave Old Spice (diz-se ‘bálsamo’) e uma combo-box com um sortido de Ferrero Rocher, Mon Chéri e Baci (doze, nove e seis, respectivamente; são muitos, sim).

Antes de, porventura, pensarem em embrulhar velhos volumes para impressionar os amigos e enganar a auto-estima, lembrem-se que ainda estão a tempo de conseguirem mais presentes com um expediente fácil. E como farão isso?

Os CTT, a exemplo de anos anteriores, garantem resposta a todas as cartas endereçadas ao Pai Natal, respostas essas que são acompanhadas por um presente. Fácil, não é? Basta capricharem na letrinha, escreverem com lápis de cor (por segurança...) e enviarem o maior número possível, de preferência com nomes diferentes; e com mais do que uma morada, que o Pai Natal é desconfiado. Podem enviar para o rancho de Rovaniemi, na Lapónia, ou para a casa de férias do Pólo Norte – ele recebe tudo a tempo!

Vai ser um fartote! Conseguirão aumentar o vosso número de presentes e de postais, passando a ideia de um Natal rico, abastado e de sucesso. E aqui entre nós: não é isso que conta?

terça-feira, dezembro 21, 2004

neste preciso momento

Chegou o Inverno. Bem-vindo sejas.

barbas de molho

Fiquei a saber aqui que o Benfica conseguiu o seu segundo título num espaço de seis meses.

Depois da vitória na Taça de Portugal no Verão passado, o estádio da Luz celebra agora a conquista do recorde da 'Maior Concentração de Pais Natal do Mundo', obtido no passado sábado e já inscrito no Guinness Books of Records. Segundo fontes bem colocadas, a ideia para esta concentração partiu do lendário sócio benfiquista Barbas, que fez ver aos dirigentes do clube da segunda circular que este poderia ser o título capaz de «galvanizar» (sic.) a equipa da Luz para a glória europeia: «Apesar de já não haver jogos fáceis», afirmou Barbas, «sabíamos que podíamos conseguir mais este título para a nossa gloriosa instituição, já que o vetusto público da nossa catedral traja normalmente de vermelho, vantagem que soubemos aproveitar. Agora os outros já não são os únicos campeões do mundo.»

O troféu, depois de recebido, será colocado no museu do clube, entre as duas taças dos clubes campeões europeus.

segunda-feira, dezembro 20, 2004

iChat instant messaging

- Estás a ver o que estou a ouvir?
- ABBA? Não consigo ler a música.
- Sim... Imagina o que teremos no pavilhâo do Atlântico entre 26 de Abril e 1 de Maio de 2005...
- Ah, é aquele espectáculo dos ABBA que estava em Madrid?
- Aquele espectáculo dos ABBA??????!!!!!!
- ...? Sobre eles? Com músicas deles? Não era dos ABBA? Não é nada disso?
- É o maior e melhor e mais grandioso e mais visto e mais elogiado e mais celebrado e com melhores músicas e e e e e e musical de todos os tempos da história dos maiores e melhores e mais grandiosos e mais vistos e mais elogiados e mais celebrados e com melhores músicas e e e e e e melhores musicais de todos os tempos!!!!! "Aquele espectáculo"???! Humpf...
- Desculpe, sim? Só vi o cartaz, não vi críticas nenhumas, não ia adivinhar que era assim tão bom.
- Assim tão bom??! Assim tão bom??!
- MAU!... Melhor?
- Assim tããããoo bom??!
- Melhor? Grandioso? ...? Isso não é bom?
- É SÓ o maior e melhor e mais grandioso e mais visto e mais elogiado e mais celebrado e com melhores músicas e e e e e e musical de todos os tempos da história dos maiores e melhores e mais grandiosos e mais vistos e mais elogiados e mais celebrados e com melhores músicas e e e e e e melhores musicais de todos os tempos!!!!!
- COMO É QUE SABES?
- "Waterloo! Waterloo! I was defeated, you won the war"
- Quem disse?
- "Waterloo! Waterloo! Promise to love you for ever more!"
- Eles por acaso vão cantar?
- Os ABBA não cantam. Eles são íntegros e recusaram todos os milhões que lhes deram para se juntarem.
- AH! AH! AH!

a não esquecer

- Comprar as prendas para a família;
- Escrever os postais para os amigos;
- Enviar as mensagens de Natal para as relações profissionais;
- Almoçar com os colegas na terça (13.ª refeição de Natal do ano, 4.ª não oficial);
- Abastecer a despensa;
- Montar a árvore (ainda não, porquê?);
- Nimed, Ben-u-ron, Betadine, anti-inflamatório substituto do Vioxx;
- Preparar a mala.

Vai ser uma semana em cheio.

...

It’s hard to live in the city
It’s hard to live in the city
It’s hard to live in the city

domingo, dezembro 19, 2004

natal dos hospitais

Looking for another place
Somewhere else to be
Looking for another chance
To ride into the sun

Ride into the sun
Ride into the sun
Ride into the sun
Ride into the sun

Where everything seems so pretty
When you’re lonely and tired of the city
Remember it’s a flower made out of clay

To the city
Where everything seems so ugly
When your sitting at home in self pitty
Remember you’re just one more person
Who’s living there

It’s hard to live in the city
It’s hard to live in the city
It’s hard to live in the city
...

Lou Reed / The Velvet Underground, Ride Into The Sun

sábado, dezembro 18, 2004

há coisas que fazem mais sentido juntas

- Sábados e céus azuis:
- Peixe frito e arroz de tomate;
- O Santana e o Sócrates;
- Gin e água tónica;
- P**** e vinho verde;
- Um branco e uma cabeleira loira;
- Um café e um bagaço;
- O Sokota e o Karadas.

Já aboli o dial-up.

sexta-feira, dezembro 17, 2004

já percebi uma coisa

Devia falar mais sobre futebol e gajas.

dá-me! dá-me! dá-me!



Está confirmado, é oficial e já há datas: sim!, o musical Mamma Mia, inspirado no universo e com músicas dos ABBA, vai estar em Lisboa entre 26 de Abril e 1 de Maio de 2005.

Em palco desde 1999, a fazer uma digressão mundial e com mais de 20 milhões de espectadores, Mamma Mia é o espectáculo n.º 1 do mundo, uma espécie de árvore de Natal dos Jerónimos dos musicais, o que, apesar de não querer dizer nada e de esta frase ser uma autêntico atentado em todos os sentidos e ainda não ter acabado, é tudo fruto da emoção e explicado pela alegria reciclada por esta notícia ponto final e ainda bem.

No sítio oficial encontrarão todas as informações sobre o espectáculo, ficando aqui, desde já, a mais importante: os bilhetes já estão à venda e não estou a perceber porque é que continuam a ler isto e ainda não saíram a correr para comprá-los.

Ah, alegria... Não me sentia assim tão vivo, tão confiante e tão despreocupadamente feliz desde os tempos do Guterres.

quinta-feira, dezembro 16, 2004

uma janela de oportunidade

A AnAnAnA é uma loja de discos no bairro Alto que tem a bondade de disponibilizar uma série de tesouros que, de outra forma, teríamos dificuldade em encontrar na nossa garbosa capital.

Tocada pelo espírito da época, esta nossa amiga resolveu sortear um cabaz de Natal, cabaz esse que, à falta de pernas de presunto e de chocolate fronteiriço, foi aprestado com um sortido de 25 discos compactos de autoria variada e credível.

As rifas são a três euros e as condições de participação estão todas aqui.

second blood

Vou ao meu segundo almoço de Natal no espaço de três dias. Hoje não há 'amigo secreto' nem tiramisù; há só uma refeição tomada num kartódromo no quilómetro treze de uma via rápida, servida pela mesma empresa de catering de há três dias atrás. E ainda faltam nove dias até ao Natal.

tenho sono

Podia ter-me lembrado mais cedo, não era?

uma oportunidade perdida (essa não; outra)

Complementando a exibição de Autografia, o cinema King programou um ciclo intitulado 'As Escolhas de Mário Cesariny', completamente preenchido com filmes escolhidos pelo homem da época dos tectos baixos.

Quem, tal como eu, ficou a saber isso agora, perdeu uma boa oportunidade para (re)ver Os Juncos Silvestres, um dos sete filmes projectados. E sim, os outros seis também não eram maus.

A redenção pode ser obtida numa sessão do Autografia ou no pavilhão preto do Museu da Cidade, em Lisboa, onde está patente uma retrospectiva dedicada a Cesariny.

quarta-feira, dezembro 15, 2004

jag kan inte tala svenska så bra



Em meados dos anos 90, o sueco Jay-Jay Johanson era um rapazinho débil com um ar anémico e franzino, muito longe do arquétipo do nórdico musculado, bem-constituído e a respirar saúde que os elementos masculinos dos ABBA e os jogadores do Benfica Stromberg e Mats Magnusson ajudaram a criar. Foi nessa condição que editou o seu primeiro álbum, Whiskey, que veio a revelar-se uma obra de culto em alguns países europeus, Portugal incluído. A sua frágil figura acabava por ser o veículo ideal para promover uma voz de crooner lo-fi envolta numa produção caseira de electrónia crua e pueril, a cantar dores de corno, ingenuidades sentimentais e maleitas amoroso-pós-adolescentes.

Confirmando a genial evidência de que a inocência não sobrevive a isto – nem mesmo a falsa inocência -, o rapaz foi gravando mais uns álbuns, cujos nomes não interessarão muito, ganhando em produção, imagem e pose o que foi perdendo do seu encanto original.

Hoje é um homem feito e confiante em si mesmo, conforme comprova a imagem que promove os seus concertos em Portugal no final desta semana. Apesar das reservas evidentes, as alternativas são um FC Porto x Moreirense na SportTV ou um passeio até à árvore de Natal dos Jerónimos.

ronda da noite


Rembrandt van Rijn, De compagnie van Frans Banning Cocq en Willem van Ruytenburch

Bom estudo, miúdo. E boa sorte para amanhã.

P.S.: Imagem obtida no sítio do Rijksmuseum Amsterdam.

terça-feira, dezembro 14, 2004

aforismos de alcova

Devido à velocidade da luz ser superior à do som, algumas pessoas parecem inteligentes até as ouvirmos.

corporate x-mas

Inicia-se hoje a minha época oficial de almoços e jantares de Natal. O almoço de hoje será o mais exigente, mas num ano em que fui a poucos casamentos, já tenho saudades de um excelso prato de bacalhau seguido de duas fatias de lombo recheado, com cenouras 'baby' a acompanhar. As empresas de catering são um manancial inesgotável de inovação gastronómica.

P.S.: Se esta entrada não correspondeu às vossas expectativas, quer pela natureza do tema, quer pelo estilo empregue, podem apresentar a vossa reclamação no formulário de comentários anexo, identificando-se com assinatura legível.

segunda-feira, dezembro 13, 2004

shake it, babe

Foi um curto, mas belo espectáculo. Os 5,4 da escala de Richter fizeram-se sentir por aqui, com um abalo que não chegou a assustar tanto como o som que o anunciou. A ruído libertado da trepidação da terra e do edifício a tremer foi mais violento do que a agitação que ocorria sob os meus pés e sobre a minha secretária.

Não foi muito divertido. No sítio onde vivo, estes sopros não lembram os maus humores do nosso planeta. No sítio onde vivo, o barulho de uma explosão - ou de algo que se assemelhe - leva-nos a olhar imediatamente para as esferas que vemos pela janela da esquerda, para os tanques enquadrados na janela da frente, com a Arrábida muito nítida lá ao fundo; ou para a curta distância que nos separa de uma refinaria e fábricas e demais complexo industrial, cerco físico que nos encosta ao mar.

Felizmente e afinal de contas, aquele barulho era só de um improvável sismo. A última coisa de que aqui nos lembramos quando a terra treme. A melhor coisa que podemos ter sempre que ressoarem estranhos barulhos vindos do nada.

desabafo

Gostava mais do serviço nacional de saúde quando os tratamentos estavam a cargo de enfermeiras parecidas com as minhas tias, velhinhas gordinhas e matronas, com nomes bonitos como Antunes, Maria da Paz, Céu, Matilde e Deolinda, e com um ar de que tão depressa mudavam um penso ou davam uma injecção como tricotavam uma camisola de lã ou faziam uma bela fornada de suspiros.

um conselho

Nunca peçam uma chamuça e um galão.

domingo, dezembro 12, 2004

clínica Ianukovitch



Se não está satisfeito com a sua aparência, nós podemos ajudá-lo. Através dos nosso métodos inovadores, pomos a mais avançada tecnologia da cirurgia estética ao seu dispor. Diga adeus aos seus problemas e entregue-se aos nossos tratamentos de saúde e beleza, disfrutando de um novo bem-estar.

Para uma descrição mais pormenorizada dos nosso serviços, é favor clicar aqui.

burlesconi

«Tribunal de Milão iliba Silvio Berlusconi

Juízes decidiram que o delito de corrupção de magistrado prescreveu, dadas as atenuantes reconhecidas ao primeiro-ministro»


O resto está aqui.

4.º C

Não adoram o cheiro do sonasol verde pela manhã?
















sábado, dezembro 11, 2004

levas tu ou levo eu?



Visita guiada à exposição do Júlio Pomar no CCB. Hoje, às 17h00.

esta manhã

Enquanto o narrador discorria sobre as suas desventuras com o amor sentido por Gilberte, um sonho revelador fê-lo questionar toda a amizade dos Swanns. Ai, grande danação traz a paixão!

Posto isto, nada como um passeio pelo mar e uma arrufada na confeitaria do senhor Isménio, gratidão imensa pelos cortes de serviço na Cabovisão.

sexta-feira, dezembro 10, 2004

sugestões para hoje à tarde

12h38: Tonturas

13h20: Arrepios

13h39: Espasmos

14h52: Alucinações

16h15: Anorexia

16h17: Fim da anorexia (shite!)

17h01: Vertigens

17h24: Bloqueios aurículo-ventriculares (deixei a mais difícil para o fim)

Eu sabia que não devia ter lido as instruções.

mephaquin

Contra-indicações e efeitos secundários: ansiedade, depressão, estados de confusão (mais?), vertigens, distúrbios de equilíbrio, problemas gastro-intestinais - náuseas, vómitos, diarreia (não!), dor abdominal, anorexia (humm...) -, dor de cabeça, bradicardia, erupções cutâneas, astenia, alterações psicológicas (dava-me jeito...), hipertensão, taquicardia, palpitações, bloqueios aurículo-ventriculares e, claro!, efeitos sobre a capacidade de condução de veículos e utilização de máquinas.

Isto promete.

quinta-feira, dezembro 09, 2004

oh, madame de volanges!



Digam-me uma coisa: se conhecessem alguém que, em menos de duas horas, conseguisse ser apresentado à Glenn Close, à Michelle Pfeiffer e à Uma Thurman e, entre uma visita à primeira, uma passeio com a segunda e um chá com a terceira, arranjasse maneira de se enrolar com as três... Vocês não iam querer matá-lo?

Este homem fez tudo isso e, como se não bastasse, motiva esgares suspeitos em todas as minhas amigas sempre que sobre ele se fala. É um actorzeco careca e pretensioso, dono de tascas rascas em Lisboa, que nem conseguiu dar cabo do canastro ao Keanu Reeves lá para o final do filme.

Nasceu hoje, há M-U-I-T-O-S anos atrás, num dia que nunca devia ter existido.

got a devil's mash-up in my mac



A iTunes Music Store chegou a Portugal em Outubro último, possibilitando à pátria lusa o acesso a um catálogo de mais de um milhão de músicas que, a troco de 0,99 cêntimos cada - ou a 9,99 euros por álbum -, podem ser compradas e descarregadas directamente nos nossos computadores. Para tal, basta instalar-se o iTunes, um programa disponível para Mac e PC que junta a loja a uma excelente jukebox.

O catálogo da iTMS não se confina aos lançamentos comerciais do momento, havendo espaço para compilações próprias e edições exclusivas. Uma das últimas a ser lançada foi o mash-up acima identificado: uma joint-venture entre Beck Hansen, Jay-Z e Pharrell Williams para os temas Frontin' e Debra, que já anda a rodar por aqui. Isto enquanto não sai o novo álbum de Beck, previsto para o início do próximo ano, segundo informações do próprio.


só acordei agora

... aconteceu alguma coisa de importante esta manhã?

quarta-feira, dezembro 08, 2004

who's the f*****' diva?

Se não for por falta de assunto, alguém me pode explicar por que é o Disco Digital mantém em destaque uma notícia de Outubro sobre o facto de a Björk 'considerar' Amália uma das três melhores vozes femininas de sempre? Com tamanha insistência, até parece o grande reconhecimento além-fronteiras da voz do fado ou uma espécie de caução tardia que este jornal resolveu conceder a Amália.

A Mojo , por acaso, também se vende em Portugal. Diz assim, no número que eu comprei: «I love the fierce connection between Rodrigues' vocal to her emotional core. You immediately go with her. This song [Povo que Lavas no Rio] is a bit rawer than usual for her - it's almost designed for her voice. It's like a prayer. Most singers I like the best when they're not showing off».

Este é um excerto da resposta de Björk sobre as suas três cantoras favoritas. Mas, também, ninguém acreditou que a Nico fosse considerada uma das três melhores vozes femininas de sempre, pois não?

i bring you joy, i bring you peace, i bring you light...

Na cansativa e exigente quadra festiva que atravessamos e entre uma prova na Loja das Meias e quatro idas à Fnac, nada como uma pausa de stop-&-go para relaxar e retemperar forças para a jornada milagrosa na loja chinesa lá da esquina.

E como nem só de confeitarias e de bolo rei este mundo é feito, aos domingos há sempre a hipótese de se passar pelo restaurante vegetariano Yin/Yang (rua dos Correeiros, 14 - 1º; perto da praça do Comércio, em Lisboa) e participar nas sessões de dança e de meditação 'Zorba - Osho Far Out', promovidas pelos Encontros do Umbigo. Às 17h00.

frites

O que ficámos a saber com a vinda de Durão Barroso a Portugal noticiada aqui pelo Público:

1. Que o senhor considera que a actual crise política portuguesa «é uma questão interna sobre a qual não me posso [não se pode] pronunciar;

2. Que «uma situação de crise política [a nossa, sobre a qual não se pode pronunciar] não é seguramente o melhor momento para discutir a Constituição europeia»;

3. Que ficou «surpreendido» com a decisão do Presidente da República - decisão essa que originou a questão interna sobre a qual não se podia pronunciar - e que segue com «especial preocupação» a evolução da dita crise.

Ou seja, ele não se pronuncia sobre a crise - porque não pode -, consubstanciando-se essa não-pronúncia num conselho paternalista sobre o referendo à Constituição europeia e em duas ou três manifestações de surpresa e preocupação direccionadas aos indígenas.

Tudo isto é muito interessante, pois a única coisa efectivamente não comentada foi a origem da crise - i.e., ele - e tudo o resto é ligeiramente aflorado, com laivos de messianismo mesclados com a - mais do que expectável - pose de grande estadista europeu.

O truque para a primeira situação é velho, e passa pelo habitual desdobramento público de personalidades que tanto prezamos: afirmando que não se podia pronunciar, Durão Barroso, Presidente da Comissão Europeia, dá a entender que tal não seria assunto que equidistante figura devesse comentar, já que não estávamos a inquirir Durão Barroso, ex-Primeiro Ministro de Portugal. É claro que, dando a coisa para o torto, lá teríamos o habitual "no entanto, na qualidade de ex-Primeiro Ministro, eu acho que...", mandando-se o outro às malvas; ou, numa outra formulação, mais adaptada para diversa situação, "como militante do PSD, não posso deixar de afirmar que ...". Infelizmente, estas mascaradas são um costume na vida pública portuguesa. Quando é que conseguiremos valorizar alguém que tenha as mesmas convicções como Presidente da Comissão Europeia, como ministro, como líder da oposição, como sócio da Naval 1.º de Maio, como encarregado de educação ou administrador de condomínio?

Claro está que diferentes posições implicam diferentes discursos; ou o silêncio, em último caso. Mas isso não deveria condicionar a essência do que se pensa, antes a forma como as ideias são colocadas. Faz-me lembrar aquele meu amigo, que é 'intelectualmente honesto' - isso quer dizer o quê? Que lhe posso emprestar edições descatalogadas do Herberto Helder e não lhe posso emprestar dinheiro?

A pose de Estado, enfim, não é nada que não se esperasse, já que estes fenómenos funcionam por osmose. Quantos de nós não ficámos deslumbrados depois daquela primeira viagem pelo 'Circuito das Capitais Imperiais' e, ao regressar a casa, não estranhámos a saloia tacanhez dos Fernandes, do 2.º esquerdo, com a qual tivemos de condescender?

Mas sobre isso não desejo pronunciar-me.

bistoury sisters

Pronto. Agora começou oficialmente a doer.

marulho

A noite segue cerrada e cada vez mais fria. Penso em regressar a casa e, ao preparar-me para sair, reparo no barulho que vem lá de fora, não da rua, mas do mar que orla toda esta vila. Estou no meio do mar, quase me esquecia. O mar, forte e libertador, demasiado presente num sítio feito de indústria, tanques e petróleo.

Uma persiana levantada e ouço-o melhor, iluminado pela luz do farol que estou habituado a ver desde sempre: luz; pausa;luz; pausa; pausa; luz.

Amanhã, que é já hoje, vou vê-lo de perto e agradecer-lhe por mais uma canção de embalar. Ou se calhar despedir-me, mesmo antes de dormir, numa praia conhecida.

Boa noite. Bom dia.

terça-feira, dezembro 07, 2004

short message service



Ponte e castelo Sant'Angelo, Roma, ou o regresso a casa numa noite de Setembro de 2004.

efemérides



«Não acredito na eternidade. O que fica de mim é um rodapé num livro de História.»

Mário Soares, nascido a 7 de Dezembro de 1924, comemora hoje os seus 80 anos. Mais do que gostar-se ou não, ele existe; existiu, fez e continua a ser ouvido. Por isso, por aquilo que me ensinaram e pelo que fui vendo - porque me deixam ver - ao longo desta pequena vida, o mínimo que posso fazer é dar-lhe os parabéns e dizer-lhe: muito obrigado.

Mas para além de Soares, ao dia de hoje também se atribui o nascimento de Gian Lorenzo Bernini (1598-1680), escultor, arquitecto e proeminente mestre do barroco. Bernini ajudou a dar forma e a eternizar Roma e, ainda e especialmente hoje, é um dos responsáveis pela apaixonada comoção que se sente quando por lá se passeia perdidamente, ao encontro do nada, e se depara com uma silenciosa ponte Sant'Angelo, com fontes encantadas na piazza Navona ou na piazza Barberini, com um elefantino perdido em frente a Santa Maria Sopra Minerva.

A imagem que encima esta entrada é de O Rapto de Prosérpina, uma das mais belas esculturas de Bernini. Uma simples fotografia, que nada tem que ver com o original, patente na Galeria Borghese. Em todo o caso, a minha oferta para este dia.

P.S.: A frase em epígrafe foi retirada desta entrevista, concedida por Mário Soares ao Diário de Notícias.

fantasias de natal

Avisam-se todas as pessoas de bem que o maior presépio de chocolate do mundo está em Nápoles. O monumento, a cargo da Associazione Pasticceri di Napoli e integrado numa coisa chamada Eurochocolate - um remake natalício de uma orgia calórica que tem lugar, anualmente, em Perugia -, é feito de 3-três-3 toneladas de ouro negro e pode ser visto aqui, cortesia do La Repubblica.

Para excursões e marcações, é favor contactarem o meu endereço de correio electrónico.

em surdina


Desdeñosa

Aunque mi vida esté de sombras llena,
No necesito amar, no necesito…
Yo comprendo que amar es una pena
Y que una pena de amor, es infinito...

Y no necesito amar, tengo verguenza
De volver a querer lo que he querido.
¡Toda repetición es una ofensa
y toda su expresión es un olvido !

Desdeñosa, semejante a los dioses,
Yo seguiré luchando por mi suerte,
Sin escuchar las espantadas voces
De los envenenados por la muerte...

No necesito amar. ¡Absurdo fuera
Repetir el sermón de la montaña !
¡Por eso he de llevar hasta que muera,
Todo el odio inmortal que me acompaña !

Aunque mi vida esté de sombras llena,
No necesito amar, no necesito…
Yo comprendo que amar es una pena
Y que una pena de amor es infinito...

Y no necesito amar, tengo vergüenza
De volver a querer lo que he querido.
¡Toda repetición es una ofensa
y toda su expresión es un olvido !

Desdeñosa, semejante a los dioses,
Yo seguiré luchando por mi suerte,
Sin escuchar las espantadas voces
De los envenenados por la muerte...

No necesito amar. ¡Absurdo fuera
Repetir el sermón de la montaña !
¡Por eso he de llevar hasta que muera,
Todo el odio inmortal que me acompaña !


Lhasa, ontem, em Lisboa. A letra foi encontrada aqui.

P.S.: Bom dia!

segunda-feira, dezembro 06, 2004

ensinança de bem cavalgar toda sela

Hoje é dia de Lhasa de Sela. Às 21h30, sobe ao palco da Aula Magna a franco-mexicano-canadiana nascida em Nova Iorque que faz a felicidade dos críticos da adjectivação surrealista.

Agradeço que alguém esteja presente, por favor; para me pôr ao corrente do evento e me fazer sofrer por mais uma ausência forçada.

finis coronat opus

Expressamente para me obrigar a um acto de contrição pelo que deixei escrito ali em baixo, Ângelo Correia, em entrevista ao programa 'Diga Lá Excelência' publicada hoje no Público, afirma que Durão Barroso «fugiu! Foi para um lugar melhor, mas fugiu. Não nos venha agora dizer que é inocente e totalmente à parte a crise que deixou. Foi para um lugar muito bom, que o prestigia, que prestigia Portugal, mas deixou-nos um sarilho»; e que, entre os despojos, «... deixou tropas, deixou orientações, deixou pressões, deixou cunhas, deixou tudo isso e mais alguma coisa».

Depois dos ataques ao bebé da incubadora, a fúria volta-se agora contra o irmão mais velho...

welcome aboard!


A grande vantagem de combinar férias com tratamentos ambulatórios e longas estadas em casa é a possibilidade de viajar por destinos já esquecidos. E se essas viagens nos permitirem sonhar com outras, mais longínquas e bem vividas, tanto melhor.

É isso que nos propõe o sítio Vintage Labels, de onde foi retirada a imagem que encima esta entrada. O sítio em causa funciona como um repositório de imagens e informações sobre etiquetas e autocolantes de viagem, onde podemos reencontrar o antigo encanto de viajar e recordar as nossas passagens pelo Danieli, de Veneza; pelo Expresso do Oriente; e pela pousada da juventude da Foz do Cávado.

Partimos?

domingo, dezembro 05, 2004

boa noite

E tu? Ris-te do quê?


Todos opinam, falam, apontam culpados inquisidoramente: Santana, Sampaio, Chaves e Cavaco, boa moeda, má moeda, Soares e amigos. Ainda há quem vá buscar Guterres. Amnésia colectiva? Não nos estaremos a esquecer de ninguém? Ou serei demasiado exigente?

Alguém já ouviu este senhor? Alguém sabe por onde anda? Alguém lhe perguntou o que tem a dizer sobre o circo que armou?

'am-fm'

Comprar um álbum dos Gift é como ir aos pastéis de Belém e perguntar se não há daqueles pastéis de nata que vendem no Continente.

e-volta

Expressões que não pretendo ouvir nos próximos tempos:

- Anestesia;
- Cápsula;
- Dreno;
- Lancetar;
- 8 em 8 horas;
- Sutura;
- PPD/PSD.

ida-


Hoje resolvi calçar-me em homenagem à minha enfermeira.

sábado, dezembro 04, 2004

espírito do inverno passado


Dunas 'pentax' entre as praias de São Torpes e de Morgavel.

advertência jurídica importante

A simultaneidade de lançamento foi pura coincidência.

& cherry on top!

Ou o poema contínuo. A semana começou com uma constipação - um 4 na escala de Richter -, cresceu com uma vacina contra a febre-amarela na terça-feira (enjoos permanentes durante o dia seguinte) e atingiu o seu zénite na quinta, com uma facada nas costas. Tenho voltado ao local do crime diariamente, onde me trocam pensos, drenos e piadas sobre "isto não vai doer nada..."

bricolage

Como é que nasceu esta mania portuguesa de aproveitar qualquer minutinho de um dia de descanso para fazer obras em casa? Parece que estou a imaginar o meu vizinho de cima ontem, ao sair do trabalho, a pensar de si para si: "Ah, fim-de-semana! Que bom que é amanhã poder acordar uma hora mais cedo do que hoje e passar a manhã inteira a partir o chão..."
Agora, já que estou acordado, toca a fazer qualquer coisa de igualmente importante, como iniciar este blogue.
Obrigado, Certã. Aposto que vais ficar com uma sala bestial.